Jambu amazônico ganha destaque como produto de alto valor
Planta típica da região Norte é transformada em cosméticos, bebidas e afrodisíacos, impulsionando economia local e pesquisas científicas
Por Kaio
Publicado em 04/11/2025 08:46
Agro

Pequena, de folhas ovais e flores amarelas, o jambu é muito mais que um ingrediente do tacacá e vem cada vez mais conquistando espaço no mercado nacional e internacional. Pesquisas científicas, empreendedorismo local e o aproveitamento das propriedades medicinais e afrodisíacas dessa planta tipicamente amazônica transformaram a erva da família Asteraceae em um produto de alto valor econômico nos últimos anos.

O jambu (Acmella oleracea) atinge até 40 centímetros de altura e é conhecido pelo formigamento característico que provoca na boca. Esse efeito é causado pelo espilantol, composto bioativo presente nas folhas e flores da planta, responsável também por uma leve anestesia. “Tão concentrada que apenas uma gota é suficiente para fazer efeito”, explica a arquiteta Tatiana Sinimbu, que aos 40 anos mudou de carreira para estudar cientificamente a planta.

Tatiana fundou a empresa Jambu Sinimbu e desenvolveu produtos a partir do extrato etanólico da planta, incluindo cachaça de flor de jambu, conserva, molho de pimenta e o spray afrodisíaco “Tremidão da Sinimbu”. Segundo ela, mais de 10 quilos de flores foram usados em três meses de testes até chegar à fórmula ideal. O sucesso rendeu à pesquisadora prêmios no Brasil e na Alemanha. De acordo com ela, o spray, aplicado nas “partes íntimas”, estimula sensações, retarda a ejaculação e aumenta a lubrificação natural.

A ginecologista e sexóloga Érika Mendonça das Neves, doutoranda na Universidade de São Paulo (USP), confirma que o efeito do spray se deve ao espilantol. Estudos do Parque de Ciência e Tecnologia Guamá, ligado à Universidade Federal do Pará (UFPA), mostram que o composto atua nos receptores nervosos, o que proporciona alívio temporário da dor, melhorando a circulação e reduzindo inflamações. Além disso, outras pesquisas laboratoriais indicam também benefícios cardiovasculares e potencial analgésico.

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Cultivo e produção no Pará

No Pará, o cultivo do jambu é concentrado em pequenas áreas periurbanas, abastecendo Belém e cidades da mesorregião nordeste. A produção varia ao longo do ano, mas a demanda aumenta em datas comemorativas, como o Círio de Nazaré. De acordo com pesquisas, para atender ao consumo diário durante a festa, seriam necessários cerca de cinco hectares de canteiros. Municípios como Santo Antônio do Tauá e Santa Izabel do Pará se destacam na produção, gerando renda e emprego local.

Além disso, jambu é ingrediente indispensável na culinária amazônica, presente em pratos como tacacá e pato no tucupi. O mercado de cosméticos também explorou o efeito anestésico da planta, criando produtos anti-idade e com efeito lifting natural. Tradicionalmente, povos indígenas e ribeirinhos utilizam a planta como analgésico e anestésico para aftas, herpes, dores de dente e garganta. Essas características foram comprovadas com estudos recentes que mostram que a planta tem propriedades digestivas, diuréticas, antiasmáticas, antiescorbúticas e sialagogas.

 

Em 2022, o governo do Pará lançou o Plano Estadual para Bioeconomia (PlanBio), com foco no desenvolvimento de cadeias produtivas sustentáveis a partir da biodiversidade amazônica, incluindo jambu, açaí e copaíba. Para Alfredo Homma, pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), “usar a ciência para elevar o conhecimento tradicional e o cultivo sustentável é a única maneira” de impulsionar a economia sem abrir mão da conservação.

Fonte: Dol

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